sexta-feira, 11 de março de 2011

Falling

Desde muito tempo parado em pé, no topo do mais alto dos prédios, sempre olhando pra baixo, diretamente pro chão, com vontade de pular. Olhava para os lados: a minha direita uma amiga no mesmo estado, a minha esquerda outras tantas rodeando o parapeito resistindo a esse mesmo frenesi.
Meu corpo estava vazio, incompleto, aquele não era eu, mas podia sentir tudo, todo o vento, toda a chuva, todos os raios e trovões, e sempre olhando fixamente para o chão, que, por sua vez, parecia cada vez mais distante.
Não me lembro exatamente quando ou por que, mas pulei e cai devagar, vislumbrando cada andar. Dois andares abaixo do topo, vi uma garota, muito branca, muito baixa, muito loira e muito triste. Exatamente um andar a baixo dela a vi novamente, mas ela estava feliz e estava acompanhada, era um garoto alto, magro e muito alegre, sorria para a garota - aquele era eu. Percebi que queria ser aquele Lucas, e me veio a mente que já o fui um dia, mas esse dia acabou.
Enquanto ganhava extraordinária velocidade fui vendo novas cenas daquele casal, de outros casais, de outras pessoas, várias pessoas, vários momentos, sempre com aquele mesmo menino, alto, magro e sorrindo pra todos, "ele é sempre feliz assim?" pensava. Era como se ele não conhecesse a tristeza. Eu já fora assim um dia? Tudo indicava que sim.
Continuava caindo como um raio em câmera lenta, resolvi olhar pra baixa e então o vi outra réplica de mim mesmo, olhando-me fixamente, esperando por mim com uma expressão demasiada séria. Não achei que ele estivesse brincando, parecia quase inumano, quase intocável, quase imortal. Não havia como compará-lo a mim, eu estava em queda livre, deprimente, idiota e tão frágil, mas definitivamente aquele era eu, imponente e pronto pra subir as escadas daquele prédio de novo, mas, definitivamente tinha algo diferente naqueles olhos lá em baixo.
O choque era inevitável, morreríamos os dois e talvez fosse até melhor assim já que o Lucas feliz estava tão a cima dali. Então aconteceu, nós dois, naquele impacto mortal, nos tornamos um só. Foi tudo tão irreal, nós olhamos para toda aquela construção de maneira tão indiferente e simplemente demos as costas pra tudo aquilo e fomos subir outro tipo de edifício, porque a depressão e a imponência, juntas, se completam e se equilibram, nós tinhamos o poder pra fazer aquilo.

Um comentário:

  1. Suspeito de que a amiga da mesma situação seja alguém que eu conheça de perto. Ótimo texto, meu querido! Ainda bem que você não morreu quando foi de encontro a você mesmo.

    :*

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